Fomos surpreendidos na última quarta-feira(19), com a morte de José Mojica Marins , o famoso Zé do Caixão.
Marins foi o gênio brasileiro do terror, pois mesmo sem dinheiro e levando em consideração que o foco do cinema brasileiro décadas atrás era a pornochanchada, o cineasta deixou um legado visível e impressionante.
Sua carreira teve início na década de 1950, trabalhando em filmes de faroeste e de teor religioso, como A Sina do Aventureiro (1958) e Meu Destino em Tuas Mãos (1963), obras essas que naquela época tinham pouco reconhecimento. Fascinado pelas obras de horror estrangeiras e com uma motivação incrível, o diretor foi um dos primeiros a importar o gênero ao Brasil em 1964, com À Meia Noite Levarei Sua Alma e com esse longa nascia o famoso personagem Zé do Caixão.
O personagem foi inspirado por conta de um pesadelo do diretor, e é um sádico coveiro que aterroriza uma pequena cidade em busca da mulher perfeita para lhe parir uma cria. Para amantes da sétima arte, vale a pena assistir o longa, com grande violência e crueldade (até para os dias de hoje), e com isso o cineasta atingiu seu objetivo de impactar a sociedade, até por conta pela profanidade. Uma cena, por exemplo, traz o Zé do Caixão em plena Sexta-Feira Santa revoltado pela falta de carne em sua refeição: “Do que me importa que seja sexta-feira dos santos ou do demônio? Hoje eu como carne nem que seja de gente”, e sua caseira horrorizada ainda lhe diz que ele encontraria o diabo durante sua procura. “Se eu o encontrar, vou convidá-lo para o jantar”. Mais tarde, o coveiro se delicia com um pedaço de cordeiro enquanto assiste a procissão, aos risos.
Na época seu longa dividiu a crítica, pois muitos viram como algo ousado, enquanto outros receberam como lixo ofensivo(imagina se o longa do porta dos fundos fosse lançado naquela época). Assim Mojica adentrou na lista da censura da ditadura militar, que iniciou uma caçada a todos os projetos futuros do cineasta.
Mesmo com suas obras sendo cortadas, reeditadas ou sequer lançadas, Zé do Caixão continuou insistindo durante anos e anos e funcionou, até certo ponto, já que a figura se tornou amplamente popular, passando a protagonizar HQs, séries de TV e também apresentar programas e a essa altura José Mojica Marins virou a referência máxima do horror nacional.
mesmo sema devida valorização financeira sua fama será eterna até em terras internacionais, já que na década de 1990 suas obras foram lançadas nos Estados Unidos e Europa.
Sob o nome de Coffin Joe, o diretor acabou sendo foi consagrado como um mestre e caiu nas graças de cinéfilos, alguns como Roger Corman, Roman Polanski, e até Takashi Shimizu (O Grito).
Zé do Caixão se foi, mas deixou um legado e um ensinamento para o cineastas de nacionais: fazer filmes mesmo que não ninguém parece apoiar. Mojica nos ensinou que o amor pelo terror e pelo que fazemos, pode existir ao lado das condições precárias. Ele foi uma inspiração para inúmeros diretores e quadrinistas explorarem ideias gigantes mesmo que com orçamentos minúsculos ou inexistentes.
Nos últimos anos, o cinema do brasileiro vem mostrando a sua força, tanto com obras com mais leves como, como Minha Mãe é uma Peça, quanto com obras mais pesadas como, como Morto Não Fala, e isso se deve a influência de José Mojica Marins.
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